Porque o jornalismo
em Portugal morreu e ainda ninguém lhe comunicou o óbito.
Porque o corpo está
entregue a unidades de neurocríticos, atarantados, menos preocupados em
reanimar o ofício do que a impressionar o administrador, e ora ligam o
ventilador ou a máquina de fazer pim!
Porque o pacto da
verdade com o leitor está a ser quebrado pela perversa lógica do clickbait.
Porque há muitos leitores incautos que caem na fraude e na armadilha. Porque
não é admissível que se condicione a remuneração do jornalista ao número de
clicks que atinge uma publicação digital.
Porque um
jornalista não é um «produtor de conteúdos» nem um «organizador de eventos»,
muito menos tem de se ocupar do marketing e da «viralização» da notícia.
Porque os mais
influentes jornais americanos e europeus vivem no mesmo e incestuoso mundo da
simplificação, do totalitarismo do gosto, debitam os mesmos clichés, copiam-se
uns aos outros, reproduzem os mesmo comentários, as rubricas têm o mesmo nome,
repetem as mesmas fórmulas, hierarquizam os mesmo assuntos e a consanguinidade
nunca fez bem a ninguém.
Porque jornalismo
sem jornalistas não existe.
Porque democracia
sem jornalismo também não existe.
Porque se registam,
apesar de tudo, alguns sinais vitais.
Porque há outras
coisas que se devem salvar, para além de bancos.
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Ana Margarida de
Carvalho, escritora e jornalista no desemprego
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